A Amazônia ainda é um mistério. O inferno verde vem suscitando as mais variadas fantasias desde o início de seu desbravamento, a partir do encontro de Francisco Orellana com as guerreiras indígenas icamiabas, em um fluxo contínuo engendrado por seus diversos ciclos migratórios.
Inúmeros e inconstantes processos de integração aconteceram sobre a região de dimensões espetaculares e isolada dentro de si mesma e do país, a despeito da busca de conexão rodoviária que se estabeleceu a partir da segunda metade do século passado. Ainda assim, o continente amazônico é um território repleto de experiências ímpares, embora pouco conhecidas do resto do Brasil.
Suas cidades, em especial as capitais Manaus e Belém, encravadas na floresta, mantiveram estreita conexão com a Europa, o que garantiu a circulação de bens culturais que, somados à vivência do habitante do lugar, constituíram procedimentos de mestiçagem cultural, que se desenharam entre o contato com o continente europeu e falta de integração nacional.
Diante desse contexto de isolamentos e fluxos, as singularidades de viver a região manifestam-se de forma particular na experiência estética dos artistas que habitam a Amazônia e operam em sistemas paralelos de arte, que ora os colocam também em proximidade com o resto do mundo, ora os mantém desvinculados do trânsito operado no centro-sul do país, gerando, por vezes, uma instabilidade na produção, tanto artística, quanto de projetos institucionais para a arte.
Esta situação de fragilidade e inconstância é reflexo das políticas que se inscreveram na região ao longo de sua história, mas que, por outro lado, propiciaram uma produção artística menos comprometida com apelos do mercado e mais concentrada nas relações com seu lugar de pertencimento, sua luminosidade, suas peculiaridades sócio-culturais, fazendo com que artistas, tanto de forma coletiva, quanto individual, realizassem proposições densas, de grande potência, como as que se vê na mostra que se revela aqui, em Amazônia, a arte.
Neste conjunto veremos artistas que vêm articulando proposições distintas. Convidamos o observador a adentrar com passos lentos, olhar com calma, como faz o nativo ao penetrar a floresta densa, e entender a luminosidade e riqueza cromática; perceber como as especificidades locais se apresentam em relação aos temas globais; compreender como as políticas são acionadas em suas micro ou macro questões.
Em Amazônia, a arte vê-se um fragmento da produção contemporânea de rara densidade, visceral, autêntica que se inscreve em um território peculiar e ainda pouco conhecido. Longe de querer lançar uma visão totalizante, a exposição aponta para a necessidade de se conhecer mais, a região e o próprio país, e entender que aquilo que nos é estranho pode ser a chave para a compreensão quem somos.
Com os artistas:
Acácio Sobral, Alberto Bitar, Alexandre Sequeira, Armando Queiroz, Armando Sobral, Berna Reale, Cildo Meireles, Coletivo Madeirista (Joesér Alvarez, de Ariana Boaventura e Rinaldo Santos), Cláudia Andujar, Cláudia Leão/ Leonardo Pinto, Dirceu Maués, Éder Oliveira, Edilena Florenzano, Elza Lima, Emmanuel Nassar, Grupo Urucum, Helio Melo, Katie van Scherpenberg, Lise Lobato, Luiz Braga, Marcone Moreira, Maria Christina, Melissa Barbery, Miguel Chikaoka, Naia Arruda, Orlando Nakeuxima Manihipi-Theri, Otávio Cardoso, Patrick Pardini, Paula Sampaio, Roberto Evangelista, Thiago Martins de Melo e Walda Marques .
Idealização e Consultoria: Paulo Herkenhoff. Produção: Maria Clara Rodrigues (Imago Escritório de Arte). Curadoria: Orlando Maneschy. Realização: Museu Vale
sucesso! ficou bem legal.
ResponderExcluir;-)
Obrigado. Foi muito trabalho de equipe!
ResponderExcluirGostei muito do texto, é o mesmo que ficou na exposição? Acredito que textos neste formato são muito interessantes para o público, percebe-se a intenção curatorial bem marcada e sem os "chavões" usuais nos textos de curadoria. Parabens!
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