terça-feira, 17 de agosto de 2010


















Carta do farol do fim do mundo


Este texto seria um segredo. Segredo do tipo que você guarda perto do coração, traz no corpo, pensamento, entranhas. Prometi não ser emocional, não falar de vinculações, relacionamentos, sentimentos.

Há um tempo que só pode ser contabilizado internamente e que marca a impregnação daquilo que nos cinde a alma. E são essas as coisas que nos trouxeram aqui, neste momento, em que tantas memórias foram acionadas, neste projeto mínimo, múltiplo e incomum.

Conflitos, medo, dor, paixão, saudade. Sentimentos variados se fazem presentes, entre palavras e desenhos em que diminutos personagens exalam solidão, que por vezes se manifesta em objetos colecionados, vestígios de uma existência. Muitas obras de Keyla Sobral materializam a presença de uma ausência. E neste projeto é a resiliência que vem movendo a artista a organizar poeticamente as dificuldades das relações no mundo contemporâneo.

Impossível manter uma distância segura desses desenhos para constituir um juízo isento. Não pretendo. Assumo o risco e me coloco ao lado de Keyla, que escancara o coração e deixa à mostra - em desenhos pungentes, impregnados de lirismo e de uma essencialidade quase violenta -, sua sensibilidade diante do incomensurável que é a vida.

Só posso dizer que me junto a ela em tantos momentos de altos e baixos que constituem aquilo que nos confere humanidade, pois somos humanos, demasiadamente, humanos.

PS: Não consegui cumprir minha promessa.

Orlando Maneschy
curador do projeto

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